No mês de junho, chegamos a 1GW de conexão de geração distribuída no Brasil, um marco energético para o país. Esse volume é muito expressivo e representa uma verdadeira revolução do sistema elétrico, que diminui, cada vez mais, sua dependência de um modelo monopolizado, de baixa qualidade e alto custo. Mas quais fatores impulsionaram esse número? E por que um país com uma energia de base tão forte, como é o Brasil com as hidrelétricas, tem uma das energias mais caras do mundo?
Essas perguntas podem parecer bem distintas, mas a resposta para ambas é complementar: a essência que explica esses movimentos está na criação da RES. 482/2012 da ANEEL. Foi esse importante marco regulatório que tornou o processo de compensação por meio de créditos de energia possível. Nesse contexto, era só questão de tempo para que a geração própria de energia virasse uma necessidade no Brasil. Acompanhe o texto para conhecer a evolução do setor fotovoltaico no país e entender como chegamos a esse número tão expressivo!
A guinada do setor fotovoltaico
A grande “virada” ocorreu em 2015, quando o preço da energia elétrica sofreu uma forte alta e, ao mesmo tempo, o valor dos equipamentos fotovoltaicos diminuiu consideravelmente. Só para se ter uma ideia, o preço dos insumos diminuiu cerca de 80% nos últimos 10 anos, enquanto a conta de energia aumentou quase 90% só entre 2014 e 2019. Também foi em 2015 que ocorreu a revisão da RES. 482 e o surgimento da RES. 687, o que permitiu novas formas de geração de energia e tornou mais dinâmicos os modelos de negócio com geração distribuída.
Criação de linhas de financiamento exclusivas para energia solar
Outro momento chave para o crescimento do setor foi quando os bancos começaram a enxergar uma oportunidade de ganhar dinheiro com energia solar, por meio de financiamentos. A proposta é simples: o banco empresta o dinheiro que viabiliza o projeto, enquanto o cliente paga a prestação com a economia de energia que o sistema fotovoltaico lhe proporciona. Assim, não há desembolso financeiro do cliente e o banco tem a possibilidade de agitar sua carteira, até então adormecida com a recessão econômica do país, por meio de uma operação segura.
Depois que as linhas de financiamento começaram a surgir, o negócio só decolou: em 2018, os resultados do setor dobraram em relação ao todo acumulado anteriormente; em 2019, a previsão é que esse número cresça 2x mais que o acumulado até o ano passado. Assim, não é equivocado supor que dobraremos nossa capacidade instalada nos próximos 12 meses, chegando aos 2GW ainda no primeiro semestre de 2020.
A entrada de investimentos externos e a diminuição do payback
Com esse aquecimento do mercado, o Brasil virou um ponto de interesse para a indústria fotovoltaica, que antes enxergava somente os mercados asiático, europeu e americano. Com isso, novos players entraram (e ainda entrarão) no país, melhorando a estrutura da cadeia de suprimentos e diminuindo custos.
Isso tudo gerou uma baixa no valor de serviços da solução, aumentando cada dia mais a atratividade do investimento. Em 2015, por exemplo, projetos comerciais tinham um payback estimado de 7 anos; atualmente, o retorno sobre o investimento chega a se dar em menos de 4 anos em algumas localidades do Brasil.
Como consequência de todos esses movimentos apontados acima, os serviços de integração aumentam – e, logo, a concorrência também. Mas nem todas as notícias são positivas…
Problemas acarretados pelo crescimento acelerado do setor fotovoltaico
A grande questão é que um crescimento tão rápido e expressivo deixa sequelas, algumas delas perigosas para a sustentação do mercado. A principal é a falta de conexão dos projetos com as distribuidoras. A comparação entre sistemas comercializados versus sistemas conectados revela números constrangedores para o mercado. Somente 37% dos projetos vendidos são efetivamente homologados, o que gera um passivo de até 1GW de energia fotovoltaica instalada sem conexão…
É evidente que existe um atraso por parte das distribuidoras, até porque o processo é novo e a demanda é muito alta. No entanto, percebe-se que há a necessidade latente de um crescimento técnico por parte do mercado fotovoltaico, principalmente no entendimento dos mecanismos de distribuição de energia.
Outro ponto crítico que merece a atenção do setor de energia solar diz respeito à qualidade dos projetos. Temos acompanhado um grande número de acidentes com instalações fotovoltaicas: telhados desabando, módulos incendiando, equipamentos danificados, pessoas caindo de alturas relevantes, enfim, ocorrências que prejudicam a imagem do mercado e às quais todos devemos atentar.
Devem ser premissas indispensáveis para o sucesso da implementação de um projeto fotovoltaico:
- investir na qualificação constante da equipe;
- contar com Engenheiros Civis e/ou Mecânicos para a elaboração de projetos de estruturas e/ou avaliação de telhados;
- utilizar materiais adequados para as instalações fotovoltaicas;
- realizar o comissionamento correto das obras;
- e fornecer equipamentos de segurança para os colaboradores durante a execução dos trabalhos.
Evoluindo tecnicamente, o mercado fotovoltaico do Brasil pode prosperar com mais segurança e garantir que a solução se difunda ainda mais. Com isso, poderemos, em breve, estar falando de números ainda mais expressivos, e com a tranquilidade de estarmos crescendo de maneira sólida e responsável, social e ambientalmente. Você não acha?