A democratização da energia solar: Frase de Impacto ou Realidade?

O real alcance da energia solar e seu potencial democrático é um assunto que divide opiniões no setor elétrico. As distribuidoras de energia, a ANEEL, EPE e Ministério da Economia apostam que a energia solar é para elite e que a sua expansão vai tornar a conta de energia cheia de subsídios pagos pelos consumidores de baixa renda, de outro lado, o mercado fotovoltaico vê os preços diminuindo e a tecnologia cada vez mais eficiente, além disso, os financiamentos acessíveis tornam a energia solar cada vez mais democrática, assim, penetrando nos mais variáveis grupos sociais. Mas, afinal: a democratização da energia solar é somente uma frase de impacto ou é uma realidade aqui no Brasil?

Falando em democratização da energia, temos que recordar que passamos por um recente momento de universalização da energia elétrica tanto na área urbana como rural no Brasil, o Programa Luz para Todos foi um marco para nosso sistema e tornou a energia elétrica acessível a maioria dos brasileiros, levando conforto, qualidade de vida e dignidade para toda população. Mas há algo em comum em todos locais longínquos que a energia elétrica chegou, há abundância de recurso solar, a fonte solar sem dúvidas é mais democrática do planeta, e em especial aqui no Brasil, onde na maioria das regiões temos potencias para gerar grande quantidade de energia com menor custo de equipamentos, sendo assim é a fonte de energia ideal para a geração distribuída de energia (junto a carga).

Vejamos, o sol é a fonte de energia solar mais democrática, o Brasil é um país em quase sua totalidade universalizado com energia elétrica de base, portanto a geração fotovoltaica distribuída on-grid é a solução ideal para todo cidadão brasileiro, desde que seja viável financeiramente.

Nesse contexto, percebemos ao longo dos últimos 5 anos que os equipamentos de energia solar diminuíram muito o seu preço, praticamente 100% para projetos de pequeno porte, além disso a instalação está cada vez mais ágil e com uma cadeia de instaladores especializados distribuídos em várias regiões do Brasil, tornando a solução como um todo mais acessível. Na mesma levada, o mercado do e-commerce começa a crescer no país e aos poucos vai mudando o perfil, antes puramente B2B, agora B2C, encurtando cada vez mais as barreiras comerciais para a implantação da energia solar, fato esse que diminui intermediários e por consequência torna ainda mais barata a solução.

Mas sem dúvidas a maior revolução no setor fotovoltaico, que torna a cada dia sua expansão mais democrática é a quantidade de soluções de financiamento, taxas módicas e com prazos adequados para permitir que o consumidor troque uma parcela de financiamento por uma economia de energia, nesse sentido, pequenas empresas e clientes residenciais de classe B e C conseguiram ter acesso a tecnologia e realmente impactar diretamente na expansão da energia solar. Engana-se quem pensa que somente as grandes empresas são as quem tem acesso a energia solar, pelo contrário, a maior característica de difusão é a capilaridade e o uso de pequenos comércios locais.

É evidente que a democratização da energia solar está longe de ser concluída, para o programa de Universalização da energia elétrica foram necessários muitos anos para termos uma difusão quase completa, ainda há localidades no Brasil sem energia, ainda que já tenham se passado quase 20 anos após o início do Luz Para Todos. Além disso, estima-se que os investimentos corrigidos passam de R$ 40 bilhões, para um atendimento de aproximadamente 4 milhões de UCs, um custo de 10 mil reais por unidade consumidora universalizada.

Nesse sentido, para seguirmos com um processo de democratização mais amplo é necessário algum programa de estado, por exemplo, hoje a tarifa social é bancada por todos consumidores, se usássemos esse recurso para expandir o uso da energia solar em clientes de baixa renda, teríamos um investimento único e o fim de um subsidio eterno. Agora, durante a pandemia, o setor elétrico está recorrendo a um empréstimo bilionário para socorrer o caixa das distribuidoras em função da inadimplência, sem dúvida, com esse recurso, conseguiríamos, por exemplo, beneficiar com energia solar todos consumidores universalizados através do Luz para Todos.

Nesse sentido, concluo que a democratização da energia solar já está ocorrendo e vai continuar sua jornada de difusão de maneira orgânica, e poderá dar o salto quando estabelecermos uma política pública de instalação de energia solar, semelhante ao que vivemos com o Programa Luz Para Todos. Tudo faz parte da evolução, primeiro temos de ter acesso a energia elétrica, depois temos que tê-la de maneira mais barata e por fim, teremos a inteligência da energia, independência e controle sobre ela.

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