O que acontecerá com a energia solar no governo Lula?

Essa é uma das grandes perguntas que surge após a polarizada e acirrada disputa presidencial do último dia 30 de outubro. Como já mencionei em posts anteriores, durante a eleição não houve nenhum aceno consistente, por parte da chapa Lula- Alckmin sobre energia solar em especial a geração distribuída.

 

No último debate da Globo, o presidente Bolsonaro mencionou o assunto e a luta dele contra a chamada taxação. O fato se refere à LEI 14.300/2022 que em breve mudará o sistema de compensação de energia, prevista para acontecer no dia 06/01/2023. Para orientar o cliente e os empresários de energia solar, fiz algumas apostas sobre eventuais benefícios e eventuais desafios que o setor de energia solar pode ter nos próximos 4 anos:

* Possíveis Benefícios;

 

  1. A pauta de descarbonização e uso de energia limpa foi mencionada várias vezes pelo governo que virá em 2023. Além disso, há forte direcionamento da nova esquerda mundial sobre a geração de energia verde.
  2. A Europa vive uma crise energética sem precedentes e o hidrogênio verde – produzido com energia limpa no Brasil – representa uma forte opção para o mercado europeu. Esse caminho, embora não impacte diretamente a geração distribuída, abre uma janela de oportunidades e uma possibilidade de expansão da energia solar pois pode, de forma indireta, melhorar e baratear a cadeia de suprimentos;
  3. Outro benefício para a expansão da energia solar, é, na verdade, uma possível má notícia para os consumidores em geral de energia: Lula já sinalizou que a redução da alíquota aprovada pela LC 194/2022 não se sustentará em sua articulação. O ajuste fiscal a fazer com os estados por compensação que seria em tese sanado por privatizações, reforma tributária e enxugamento do Estado no governo Bolsonaro vai tomar outra direção. O governo grande e inchado petista não poderá abrir mão de impostos e a grande possibilidade é a revisão da lei que diminuiu a arrecadação dos estados sob o ICMS. Há possibilidade de revogação do teto de gastos e nada de privatizações, consequentemente é provável que teremos novos aumentos na conta de energia.
  4. A autonomia do Banco Central também não deve prevalecer, isso indica a tendência de mudanças nas taxas de juros, principalmente se o governo quiser retomar o crédito com grandes empresários e agronegócio. Isso pode ser decisivo para dar governabilidade num ambiente com oposição forte e uma bancada do agronegócio que é ponto de equilíbrio para sustentação política.
  5. Sempre é bom lembrar que o PT tem o Estado como propulsor da economia. O discurso de esquerda na área econômica vem acompanhado sempre com o viés ambiental, o que abre a possibilidade de uma política pública em direção à democratização da energia solar no estilo “Minha Energia Solar, minha vida” [rsrs]. Mas tirando a brincadeira de lado, com uma boa articulação de associações do setor, pode ser que haja algo nesse sentido, o que seria muito benéfico para a expansão da energia solar e da GD no país.

 

* Possíveis desafios para o setor solar;

 

  1. Pelo mesmo motivo de um eventual aumento da conta de energia (Estado grande necessita de mais impostos), temos a sombra de um aumento em tributos em equipamentos do setor solar. Na atualidade a cadeia de suprimentos é praticamente isenta, inclusive nos produtos importados. É sempre complexo pensar a respeito, mas devido ao volume significativo de operação de equipamentos solares no mercado e a necessidade de recompensar os estados isso deve ser sim considerado um risco para as empresas e para o mercado como um todo.
  2. O Câmbio e a inflação podem ser outro problema no horizonte. Claro que isso é uma incógnita, mas uma economia voltada para o assistencialismo e com problemas fiscais podem gerar inflação, interferência e por consequência desvalorização da moeda. Como nossos projetos de energia solar são atingidos pela variação cambial isso pode ser um elemento de dificuldades para novos projetos.
  3. Com um governo estadista e com histórico de corrupções, os lobbys de monopólios pode ganhar força no governo Lula. Portanto, há a necessidade de vigilância constante dos movimentos de energia solar distribuída para evitarmos eventuais abusos nas taxações ou redução de benefícios para os presumidores de energia.
  4. Além disso, há também a preocupação com as relações trabalhistas e o retorno da força sindical. A competitividade de serviços dos projetos se deu pelos inúmeros micro e pequenos empreendedores que atuam nas instalações do projeto, e com o passivo trabalhista aumentando para estes teremos um aumento dos preços das soluções como um todo, onerando ainda mais os consumidores que pretendem aderir a energia solar.

 

É importante destacar que essas previsões são baseadas em históricos e atual momento econômico do país além da maturidade do setor solar. Temos que ter consciência dos pontos positivos para aproveitá-los, e dos negativos para anteceder movimentos.

O meu desejo é que o novo governo nos surpreenda positivamente e faça do setor solar protagonista econômico e ambiental do Brasil. O governo eleito levantou a bandeira de proteção à Democracia e não há nada mais democrático do que a geração distribuída. Que possamos ter uma jornada de desenvolvimento e liberdade energética para os consumidores de energia elétrica do Brasil, fazendo com que a longo prazo a energia elétrica diminua para todos e seja predominantemente gerada por fontes limpas.

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