O financiamento inteligente e o crescimento da energia solar no Brasil

O financiamento inteligente e o crescimento da energia solar no Brasil

A forte queda dos preços dos equipamentos fotovoltaicos ao longo dos anos é apontada pelos analistas de mercado como um dos principais catalisadores da difusão da energia solar no Brasil. Sem dúvida, esta redução tem se mostrado um grande diferencial para viabilizar cada vez mais projetos.

Entretanto, ao avaliar o tema a fundo, nota-se que, nos últimos tempos, a queda de preços não teve impacto tão significativo ao consumidor final. A recente desvalorização do real frente ao dólar prejudicou esse processo. Porém, mesmo com o impacto cambial e um ambiente de crise econômica, provocados pela pandemia de COVID-19, a fonte solar continua em curva de crescimento, o que atesta a enorme resiliência do setor e a constante evolução de seu mercado.

Neste novo cenário, será que o principal fator de difusão da tecnologia fotovoltaica continua sendo a redução nos preços dos sistemas?

A experiência de “ponta de lança” no segmento de geração distribuída aponta que, atualmente, o principal catalisador de difusão da energia solar está nas diversas linhas de crédito disponíveis aos consumidores. Ainda mais importante: as linhas passaram a proporcionar atratividade econômica imediata aos clientes interessados em energia solar, com o chamado “financiamento inteligente”.

Este novo conceito ganhou força quando as parcelas mensais do financiamento atingiram, em muitas regiões, valores iguais ou inferiores à economia mensal nos gastos com energia elétrica do cliente que investe num projeto solar fotovoltaico. Nestes casos, não há mais a necessidade de nenhum desembolso financeiro direto por parte do consumidor. Depois de um determinando período, as parcelas do financiamento são quitadas e o cliente passa a aproveitar a economia plena de seu sistema, por uma vida útil total de pelo menos 25 anos.

Esse movimento começou a ganhar mais força ainda a partir de 2015, quando a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) fomentou e apoiou a criação de novas linhas de crédito via agências de fomento e bancos de desenvolvimento, com taxas de juros baixas e prazos de amortização longos. Isso permitiu que os empreendedores do setor começassem a equilibrar as curvas de economia e investimento dos seus projetos. No entanto, a quantidade, abrangência geográfica e agilidade de empréstimo destas linhas ainda eram restritas, o que limitava sua capacidade de acelerar a difusão da solar em todo o Brasil.

Uma onda complementar de engajamento dos agentes financiadores, com a participação gradual de bancos privados, foi o próximo passo nesta caminhada. Com processos simplificados e ágeis de empréstimos, focando em consumidores de todos os portes e perfis (PFs e PJs) e com maior flexibilidade nas exigências de garantias financeiras, o financiamento se tornou mais fácil de acessar. Porém, as taxas de juros utilizadas pelas instituições comerciais à época eram mais elevadas e ainda não viabilizavam o financiamento de forma tão inteligente.

Com a crise econômica e recessão vivida no Brasil em 2016, os financiadores passaram a olhar para o setor solar fotovoltaico com maior atenção, como um importante mercado a ser explorado. O baixo risco de inadimplência e a queda recorrente da taxa Selic possibilitaram que, a partir de 2017, houvesse um aumento considerável dos parcelamentos e uma diminuição das taxas de juros. Com isso, teve início finalmente a era do “financiamento inteligente”. Este era justamente o empurrãozinho de que o mercado precisava para acelerar com ainda mais força.

Atualmente, o Brasil possui mais de 70 linhas de financiamento e mecanismos de garantia financeira disponíveis para energia solar em todo Brasil, para diferentes regiões, portes de projetos e perfis de clientes. As informações podem ser consultadas gratuitamente no site da ABSOLAR, na aba de Financiamentos.

A pandemia de COVID-19 impactou as linhas de financiamento disponíveis para produtos solares. Num primeiro momento, os bancos privados reduziram os volumes de empréstimos, enquanto analisavam o novo cenário e o comportamento dos mercados. Além disso, parte das operações financeiras em carteira foram derrubadas até o estabelecimento de procedimentos para operações remotas dos bancos, bem como pela dificuldade de registros em cartórios para regularização dos contratos.

Passadas as primeiras semanas de adaptação ao “novo normal”, as operações começaram a ser novamente retomadas, ainda que lentamente. As cooperativas e os bancos públicos mantiveram as taxas e condições ao mercado, ao passo em que os bancos privados tiveram postura mais conservadora em relação às suas taxas e abertura a novos empréstimos.

Agora, passado o período mais agudo da crise, a situação dos financiamentos está próxima à vivenciada antes da pandemia. Outro fator que deverá acelerar os “financiamentos inteligentes” são os aumentos previstos nas tarifas de energia elétrica. Tal acréscimo já começou a ser sentido pelos consumidores no último mês, com os reajustes tarifários das transmissoras.

Artigo escrito por Luiz Alberto Wagner Pinto , CEO HCC Energia Solar; Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR e Ronaldo Koloszuk , presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR.

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