Por que a #taxarosolnao incomoda tanta gente?

Você se lembra daqueles momentos da nossa infância, em que algum colega colocava um apelido na gente? Quanto mais bravos ficávamos, parecia que mais intenso aquilo ficava… Passava o tempo e, ao invés de o apelido ser esquecido, uma quantidade cada vez maior de gente aderia a ele…

Essa pequena historinha, que fez parte da infância de muitos de nós, parece-me perfeita para ilustrar a discussão sobre as mudanças da Resolução 482 da ANEEL. Confira o vídeo abaixo para se situar no andamento das alterações e, em seguida, entenda tudo sobre a hashtag!

A reação da ANEEL à #taxarosolnao

Em um gesto de pura inspiração, alguém criou a #taxarosolnao… Não conheço o real intuito criativo, mas, a mim, parece óbvio que se trata de uma crítica inteligente à verdadeira aberração regulatória que a ANEEL está promovendo. Passados alguns dias, a hashtag viralizou, o que fez com que, rapidamente, a ANEEL e seus aliados (EPE, distribuidoras e Ministério da Economia) respondessem – de maneira desproporcional, diga-se de passagem.

A Agência reagiu como uma legítima criança, que recebeu um apelido do qual não gostou da sua turma de amigos… E não é que o efeito se deu da mesma maneira? A #taxarosolnao pegou e está presente em todos os atos, cerimônias e protestos dos milhares de trabalhadores e de consumidores que geram sua própria energia – e que querem continuar gerando, sem pagar a mais por isso.

Como o discurso dos intelectuais e aliados da ANEEL é altamente agressivo contra o protesto do setor fotovoltaico, resolvi, mesmo não sendo o criador, tentar entender o que está por trás da #taxarosolnao. Acompanhe!

 

O que a #taxarosolnao implica

A primeira grande constatação que fiz é que estes ilustríssimos intelectuais não têm muita proficiência quando o assunto é sol. Isso porque quase nunca saem dos seus gabinetes para ver como é a realidade aqui fora e se expor à luz solar, exceto quando é para inaugurar alguma obra. Essas obras, por sua vez, normalmente atendem às necessidades de parcelas pontuais da sociedade – no caso, aquelas nas quais eles estão inseridos.

Outra palavra presente na hashtag que impacta muito a turma dos aliados do regulador é “taxar”. Esta palavra não está associada unicamente a impostos, muito pelo contrário: toda a vez que algum grupo deseja regular ou impor limites a outro, podemos afirmar que também se trata de uma taxação. Interpretando desta forma, podemos dizer que a ANEEL e seus aliados resolveram, sim, taxar a geração distribuída (GD).

A justificativa de remunerar o uso da rede não se aplica porque a utilização que a GD faz da rede é apenas parcial. Além disso, a energia solar traz benefícios aos proprietários da concessão das redes de energia que poderiam até mesmo isentá-la de quaisquer cobranças. Portanto, aplicar uma taxa de 60% sobre a energia que é gerada, como o nosso próprio Presidente da República afirmou, beira o deboche.

E, para finalizar, lá vem o sol de novo, com sua energia limpa e gratuita, pelo menos até o momento… Hoje, essa fonte de energia corresponde a mais de 90% das conexões de geração distribuída do Brasil; logo, a tal taxação irá, sim, “eclipsar” o sol.

Penso que a ANEEL e seus aliados precisam deixar de se incomodar toda a vez que veem a #taxarosolnao. Afinal, trata-se de uma manifestação democrática e muito consistente, na qual ninguém está fazendo sensacionalismo.

Muito pelo contrário: o que estamos tentando fazer é alertar a sociedade e nossos representantes políticos de que, uma vez aprovada tal aberração, regressaremos muito no processo de transformação energética.

Foto: DINO

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